SÃO
PAULO e BRASÍLIA / O Dia do Radialista, comemorado no dia 7 de novembro, teve este ano um sabor especial. Nessa data, a presidente Dilma Rousseff recebeu donos de rádios no Palácio do Planalto para assinar o decreto que permite às
emissoras AM migrar para a faixa FM, atendendo a uma demanda antiga do setor.
A
mudança, que será opcional, tem por objetivo dar um novo fôlego às rádios AM,
prejudicadas com o aumento de ruídos e muitas interferências em suas
transmissões. Enquanto isso, as rádios FM, que desde os anos 80 sempre tiveram
maior aceitação entre os públicos mais jovens, passaram a ganhar mais espaço.
Mesmo sem o grande alcance das AM, as FM apresentam sinais mais limpos e também
podem ser sintonizadas por dispositivos móveis.
"As
emissoras de rádio AM vêm perdendo competitividade por causa da interferência
no seu sinal. Essa é uma questão física: o meio de propagação desse tipo de
onda é muito suscetível a ruídos, prédios, energia elétrica, barulho de
carros", afirma Daniel Slaviero, presidente da Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
Para Hilton Alexandre, presidente da Associação de Emissoras de Rádio e TV do Estado do Rio de Janeiro (Aerj), "é uma questão de sobrevivência". "Há uma queda gradativa: os jovens não conhecem a AM nem a aceitam, porque a qualidade de áudio é muito ruim. E as pequenas emissoras estão sendo engolidas, porque não conseguem mais fazer audiência", afirma ele, que desde 2009 pleiteia a migração, juntamente com outros radiodifusores.
A
mudança será possibilitada com a transferência de emissoras de TV do analógico
para o digital. Os canais 5 e 6 VHF devem ficar vagos em 2015, quando a TV
analógica for de fato desativada. Em cidades onde a faixa FM praticamente não
comporta mais rádios, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as
emissoras AM serão alocadas nos canais de televisão recém desocupados, chamados
de "faixa estendida". Onde o FM não estiver saturado, as rádios serão
alocadas na própria faixa já existente.
Convertida
para rádio, a frequência dos canais 5 e 6 da TV irá de 76 a 88 MHz, tornando-os
"vizinhos" da atual faixa FM, que opera de 88 a 108 MHz (veja
quadro). O novo espectro do FM obrigará a indústria a produzir aparelhos de
rádio que consigam sintonizar a nova faixa. Por isso, diz o presidente da
Abert, haverá um prazo de adaptação de cinco anos, em que o radiodifusor poderá
realizar transmissão simultânea em AM e FM.
Neste
primeiro momento, os canais desativados da AM não despertam interesse do governo
ou do mercado. "Por enquanto, a faixa ficará sem uso, até desenvolvermos
uma tecnologia para aproveitar esse espaço", diz o ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo. Ele afirma que foram feitos testes para averiguar
se a digitalização, que já ocorre no FM, seria uma solução para os percalços do
AM. No entanto, afirma, os resultados não foram satisfatórios. Novos testes,
porém, ainda serão realizados, diz.
Custos.
A mudança para o FM é opcional, porém onerosa. Os radiodifusores terão de pagar
por uma nova outorga, de FM, o que será custoso. Além disso, terão de adquirir
equipamentos condizentes com a nova tecnologia. "Será necessário comprar
uma nova antena e um novo transmissor, o que vai ficar por volta de R$ 70 mil a
R$ 80 mil", diz Slaviero. A Abert estima, apenas com os aparelhos, um
gasto de R$ 115 milhões para o setor.
Também
podem entrar na conta gastos logísticos, uma vez que, enquanto os transmissores
de AM precisam estar alocados em um lugar plano, os de FM costumam ficar em
lugares altos, como no topo de prédios. Os gastos de energia e manutenção,
contudo, são bem menores em rádios FM.
Segundo
a Abert e o Ministério das Comunicações, as rádios AM que optarem pela migração
ocuparão na faixa FM um espaço correlato, sem perder potência. "Ela vai
ter o mesmo alcance que tinha com o AM", diz o ministro, se referindo ao raio
de abrangência principal da rádio, conforme estabelecido pela outorga.
Porém,
as rádios perderão a amplitude geral de sua cobertura, uma vez que a AM tem um
alcance maior que a FM. Uma rádio que opera na capital paulista pode, por
exemplo, "pegar" no litoral, ainda que com sinal de baixa qualidade.
"Se a emissora cobria dez municípios, dificilmente vai continuar
assim", diz Ronald Siqueira, engenheiro da Sociedade Brasileira de
Engenharia de Televisão (SET).
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