(g1.globo.com) - Nos últimos seis anos quase 100 mil
brasileiros se afastaram do emprego ou foram demitidos por causa do alcoolismo,
afirma o Ministério da Previdência. A doença é grave e costuma romper a ligação
que os dependentes tinham com a família e com o trabalho.
O primeiro passo do ajudante de
frete José Robério foi admitir que o problema existia. O segundo, procurar
ajuda e, a partir daí, resistir, segurar, enganar a vontade de beber. Ele não
bebe há 40 dias “Pretendo continuar assim, sem bebida alcoólica”, afirma.
O comerciante Paulo Chaves, dono de
um botequim, faz o pedido semanal para repor o estoque. São R$ 500 em compras
só de bebidas alcoólicas. As chamadas bebidas quentes, como a cachaça, são as
mais vendidas. Ele diz que quem busca uma desculpa para beber, encontra muitas:
“Está bebendo porque fez um mal negócio ou porque está chateado ou porque bebeu
demais no dia anterior, tem que beber uma para sarar a ressaca. Tem essas
coisas”.
“Acaba sendo gerado um problema para
a Previdência em termos financeiros. A pessoa deixa de contribuir para a
Previdência, porque está com direito a benefício e ainda gera despesa com o
benefício”, explica Alexandre Zioli, coordenador de atuária do Ministério da
Previdência Social.
Um homem que sofre com o alcolismo e
prefere não se identificar conta que o encontro com o álcool foi um azar. Ele
tinha 14 anos e estava começando a vida profissional em um grande banco. Hoje,
aos 45 anos, trabalha como ambulante: "Enquanto eu estava bebendo, eu não
parei em lugar nenhum. O álcool foi extremamante massacrante e impeditivo de
que eu viesse a ser um ser de produção".
Mesmo sem beber há 13 anos, ele
ainda não conseguiu restabelecer os vínculos familiares. "Eu,
particularmente, sou extremamente só", relata.
Segundo a psicóloga Janete Pinheiro,
que trabalha em uma clínica de reabilitação, a tolerância das famílias tem
limite e aconselha que elas procurem ajuda para evitar um mal que pode ser
ainda maior: o abandono do parente. “Sozinho esse caminho é bastante tortuoso
porque ele ainda tem muito desejo de beber. Então, ele vai ficar brigando com
isso. Entre andar nas pedras e beber sempre foi mais fácil beber”, orienta a
especialista.
Em 2009, 13.797 pessoas foram
afastadas do trabalho e receberam auxílio-doença por causa do alcoolismo. No
ano passado, o número saltou para 16.480 afastamentos.
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