segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Trabalho por conta própria cresceu 5% no último ano com a alta do desemprego


Desde que a crise estourou, o dragão acordou enfurecido e as taxas de desemprego subiram, a professora da área de Gestão de Pessoas da Fundação Getúlio Vargas/Faculdade IBS Érika Nahass passou a brincar com os alunos que chegou a era da “sevirabilidade”. “Com o achatamento da renda, o aumento do custo de vida e o fechamento de postos de trabalho, o brasileiro está tendo que se virar como pode”, diz ela.

De abril a junho deste ano, o exército de brasileiros que trabalham por conta própria no país ultrapassou a casa dos 22 milhões, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com igual período de 2014, o grupo, formado por autônomos que pagam impostos, e principalmente por quem está na informalidade, tentando se virar, cresceu quase 5%.

“O aumento do trabalho por conta própria, que remete à perda da estabilidade e do emprego com carteira assinada, foi sentido em praticamente todas as unidades da federação. Em todas as regiões, foi detectada a presença do trabalhador por conta própria como forma de voltar ao mercado de trabalho ou como uma maneira de compor a renda familiar”, afirma o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Segundo ele, o quadro de informalidade é reforçado pela alta da taxa de desemprego, que bateu em 8,3% no último trimestre analisado.

Entre abril e junho, no Brasil, 8,3 milhões de pessoas procuraram emprego sem encontrar uma oportunidade, aumento de 23,5% sobre o número de desocupados em igual período do ano passado.

Outro dado preocupante citado por ele foi o corte de 9% nas vagas na construção civil, um dos setores que tradicionalmente mais empregam no país.

Após perder o emprego de auxiliar de pedreiro no início deste ano e ouvir vários “nãos” de empresas do ramo, Pedro Lucas da Silva passou a vender pano de chão nos sinais de trânsito de Belo Horizonte. São sete unidades por R$ 9,99. Mas nem a “promoção” tem atraído a freguesia ao volante.

“Ganhava muito mais fichado, além da segurança e dos direitos que um trabalhador com registro tem. Mas tenho que ir à luta. Enquanto não aparecer nada melhor, vou levando”, disse.

Para a professora Érika Nahass, o movimento atual, infelizmente, é de recuo na formalização. “As conquistas, que levaram anos para acontecer, agora começam a ser perdidas”, avalia.

Professor do MBA Finanças do Ibmec em Minas, Alexandre Galvão ressalta a relação direta entre crescimento sustentável da economia e criação de empregos formais. “Hoje, vemos o efeito inverso. Com a queda no PIB, tem mais gente desempregada. E a informalidade acaba sendo o caminho por falta de opção”, diz.

Subemprego cresceu 22% nos últimos 12 meses na Região Metropolitana de BH

O peso da conjuntura econômica desfavorável provocou um salto no número de pessoas em subempregos ou que fazem bicos.

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), os subocupados já somam 51 mil trabalhadores, aumento de 22% nos últimos 12 meses.

Segundo o IBGE, são pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana, no único trabalho ou no conjunto de todas as ocupações, mas gostariam de trabalhar mais. Geralmente, são empregos informais e temporários.

“A crise interrompeu a trajetória de redução desse contingente de trabalhadores”, diz o professor do Ibmec Alexandre Galvão.

Nas ruas ou até mesmo nas faculdades, é visível a quantidade de gente se virando para ganhar dinheiro ou reforçar o orçamento. Artesão especializado em madeira, João Murça se diz espantando com o aumento da concorrência. “De uns meses para cá, apareceu de tudo. Tem mais pessoas vendendo água, bala, frutas, apetrechos de celular, amendoim e artesanato. É uma questão de sobrevivência”, diz ele, que costuma oferecer os produtos que faz no bairro de Lourdes.

Sempre de camisa social e sorriso no rosto, José Carvalho, 65, incrementa a receita da família com a venda de palha italiana no sinal. “É como uma jornada de trabalho. Chego ao meio-dia e só vou embora às 21 horas”, diz.

Universitários também fazem malabarismos para completar a renda. “Os alunos estão usando a criatividade. Alguns vendem sanduíche natural, doces e cosméticos. Outros procuram atividades freelancer na área digital, por exemplo”, diz a professora da FGV/IBS Érika Nahass.

Estudante na PUC Minas do Coração Eucarístico, Lucas Baudson começou a vender brigadeiros gourmets no intervalo das aulas. “Um dia comprei um brigadeiro de uma colega e não gostei. Vi que podia fazer bem mais gostoso. E está dando super certo”, diz.

Por semana, ele vende 140 doces nos sabores negresco e leite ninho com nutela. Cada um custa R$ 3, o que rende um faturamento mensal de R$ 1.680. Um complemento e tanto para quem recebe R$ 400 no estágio. “Dá para a gasolina do carro e outras despesas. E ainda vou guardar para uma viagem no final do ano”, contou.

- A economia informal movimentou, somente no ano passado, R$ 826 bilhões, o equivalente a 16% do PIB brasileiro
 


http://www.hojeemdia.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.