terça-feira, 17 de junho de 2014

2ª reportagem da série mostra desvio de recursos em 7 cidades mineiras

Um levantamento feito pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) com base nos dados do último censo mostra que dos dez municípios mais pobres do estado, sete ficam no Norte de Minas, região com 2,6 milhões de habitantes. Um dado preocupante que pode contribuir para o aumento da criminalidade.

As investigações alteraram a rotina dos investigadores da Polícia Federal. Atuamente a unidade de Montes Claros investiga mais casos de corrupção do que de tráfico de drogas na região, onde 60% do trabalho realizado estão relacionados ao crime de desvio de verba pública.

O impacto social da corrupção é sentido pela atendente de supermercado Samara Cristina Vieira, de 22 anos, que se matriculou em um curso de Cuidados Pessoais, ofertado pelo Programa Nacional de Inclusão de Jovens no mercado de trabalho (Projovem) em Januária, no Norte de Minas. Segundo Samara, a experiência foi frustrante.
“A gente ficou sabendo que iriamos visitar salões de beleza, seguir o livro passo a passo, essas coisas. Só que isso não aconteceu. Eu acredito que ninguém teve proveito do curso”, comenta a atendente de supermercado.

Na região, os cursos do Projovem eram oferecidos pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte. “O instituto vivia a partir da terceirização da mão de obra não qualificada, com o objetivo de superfaturar os serviços contratados para serem executados”, diz André Vasconcelos, procurador do MP.

Nas sete cidades mineiras, Januária, São Francisco, Taiobeiras, São José da Ponte, Araçuaí, Coração de Jesus e Três Corações, onde o esquema foi identificado, a Justiça estima um prejuízo de R$ 3.636.956,77, resultando na prisão de 23 pessoas. Entre elas, o ex-prefeito de Januária, Maurilio Arruda.

“Eu fico imaginando como é que a pessoa tem coragem de depois de um dia de trabalho ir para casa e dormir o sono dos justos. Como ele consegue fazer isso e no outro dia chegar e olhar para sua cidade e ver o caos implantado. Eu custo a crer como é que um ser humano possa ser tão insensível diante desse caos absoluto que foi provocado em boa parte pela própria má administração”, comenta o promotor Paulo Márcio.

O cinegrafista Geraldo Humberto, que colaborou com a série, fala com indignação dos fatos apurados e o que ainda tem a revelar as outras reportagens.

“No começo do projeto da série, eu não imaginava que o volume de recurso desviado fosse tão grande. No meu entendimento é muito alto. E você deparar cidades e pessoas simples em situação de abandono, foi o que mais me entristeceu”, lamenta Geraldo.

O cinegrafista ainda revela que apesar de anos de profissão, se revela surpreso com o que os dados apresentados pela Justiça em cada crime ocorrido na região. “Após 25 anos de profissão, eu não imaginava poder assistir ações que viessem coibir aquilo que ouvíamos falar e não podia comprovar: o desvio de verba pública”, relata.

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